Um país a arder e um jornalismo em crise cada vez mais sensacionalista

O país está de luto devido ao incêndio trágico, que teve início no sábado, 17 de junho, e regista mais de 60 mortos e 60 feridos, em Pedrógão Grande, distrito de Leiria. A paisagem natural, de tons verdes e castanhos, deu lugar a uma paisagem cinzenta, carregada de lágrimas, suor, perdas e desilusões.

Segundo dados da Proteção Civil, estão envolvidos mais de 2150 operacionais a tentarem combater os incêndios que estão de momento a deflagrar, nos distritos de Leiria, Coimbra, Castelo Branco e Bragança. Os carros dos bombeiros saem dos quarteis com bens alimentares e essenciais, que visam ajudar os que estão a combater as chamas e aqueles que infelizmente perderam tudo ou quase tudo. A solidariedade existe, mas será que o bom senso também?

Hoje os portugueses unem-se em torno desta desgraça. Mas é preciso refletirmos sobre este assunto. Apesar do fogo ter sido causado por aspetos naturais, mais concretamente, trovoadas secas, não nos podemos esquecer que muitos dos fogos que atormentam o mundo, são causados pela nossa mão, pela mão do Homem. Por isso, cabe-nos a nós cuidar de um Mundo que nos pertence, cabe-nos a nós defender o país e a terra que vivemos.

Depois, como jornalista que fui e ainda sou, devo lamentar que é triste ver e assistir a um jornalismo sensacionalista que em nada vai a favor do código deontológico. São várias as demonstrações de um jornalismo de qualidade duvidosa e muito aquém do grande objetivo inerente à profissão, o de informar com rigor e exatidão.

Percebo que todos queiram ser os primeiros a dar a notícia, também percebo que todos queiram ser líderes de audiências e de cliques. Mas até que ponto é que devemos fazer diretos ao lado de um corpo? Imaginem que há vento… imaginem que aquele lençol branco destapa o rosto familiar de alguém? Será isso necessário? As regras dizem que não!

Depois, é notícia que um conhecido treinador português de futebol vai doar 100 mil euros a esta causa, mas que ainda assim é uma pequena parcela, quando considerado o salário do técnico português. Na China, onde treina o Shangai SIPG desde o ano passado, Villas-Boas recebe qualquer coisa como 16 milhões de euros brutos por ano. Na prática, a doação que o treinador vai fazer esta segunda-feira para o banco público português representa 10% do seu vencimento mensal bruto, pouco mais de dois dias de trabalho na capital chinesa.

É urgente preservar-se o jornalismo, da agenda sensacionalista. É urgente que se mude o foco e que se faça alguma coisa sobre este assunto.